“Pose”: uma história sobre a cultura ballroom, orgulho, aceitação e liberdade

 A série retrata o surgimento da cultura dos bailes LGBTQIA+, questões de gênero e diversidade e a crise de AIDS nos anos 80

‘Pose’ é uma daquelas séries emocionantes que prende nossa atenção do início ao fim. Revolucionária e de extrema importância, ela mergulha com intensidade nas vidas e experiências da comunidade LGBTQIAPN+ afro-latina e afro-americana na cena de ballroom, ambientada na cidade de Nova Iorque entre os anos de 1980 e 1990.

Criada por Steven Canals, Brad Falchuk, Janet Mock, Our Lady J e o grande Ryan Murph, Pose foi, à época, a primeira produção da TV norte-americana a contar com cinco personalidades trans em seu time de atores e atrizes, o maior número já registrado. Entre o elenco, destacam-se figuras poderosas como MJ Rodriguez, Indya Moore, Dominique Jackson e o talentosíssimo Billy Porter. E claro, muitos outros que dão vida a personagens complexos e cativantes.

Com três temporadas (2018-2021), conquistou rapidamente a aclamação da crítica e do público. A trama mostra a história de Blanca Evangelista (MJ Rodriguez), uma mulher transexual e participante dos bailes de ballroom que acolhem algumas pessoas marginalizadas pela sociedade. Após ser expulsa da Casa Abundance, comandada pela arrogante Elektra Abundance (Dominique Jackson), ela decide abrir sua própria casa, a Casa Evangelista. Essas casas são formadas principalmente por membros da comunidade LGBTQIAPN+, que também abrigam outras pessoas que se sentem excluídas da sociedade por conta de sua sexualidade.

A série é uma produção da FX e, no Brasil, pode ser assistida na Star+.

 ORGULHO E RESISTÊNCIA

A série se destaca por sua autenticidade e representação diversificada de personagens e histórias. ‘Pose’ explora temas profundos como identidade, família, aceitação e luta contra o preconceito e a discriminação. Ambientada em uma época marcada pela epidemia de HIV/AIDS e pela marginalização das comunidades LGBTQIAPN+, a série retrata os desafios enfrentados pelos protagonistas enquanto buscam encontrar seu lugar no mundo e construir uma família escolhida.

Todo o luxo dos figurinos exuberantes da época, as gírias, a representação do vogue (estilo de dança que nasceu com os bailes do Harlem, em NY), foi muito bem-apresentado pelos criadores, principalmente Murphy, conhecido por comandar séries de sucesso.


CULTURA BALLROOM: ARTE E LIBERDADE

Na Nova Iorque dos anos 80, a comunidade negra e latina LGBTQIAPN+ encontrava um refúgio em meio ao caos: as ballrooms. Um espaço de acolhimento, admiração e reconhecimento de uma minoria historicamente marginalizada e com sua cultura silenciada. Um ambiente onde é todos podem ser eles mesmos, sem medo e sem preconceitos. Livre para viver sua arte.

A cena ballroom foi criada por mulheres trans negras e latinas de Nova Iorque como uma expressão artística que resiste a toda e qualquer violência e discriminação. Uma espécie de baile onde os competidores, conhecidos como houses (casas), se enfrentam em categorias de competição que incluem dança, moda e performance.

Cada casa era liderada por uma “mãe” ou “pai” que fornecia apoio e orientação para os membros, sendo a maioria jovens LGBTQIAPN+ que haviam sido rejeitados por suas famílias biológicas. Ao longo das décadas, a cultura ballroom cresceu e evoluiu, tornando-se uma comunidade vibrante e influente que ajudou a moldar a moda, a música e a arte contemporâneas.


Longe de ser apenas uma forma de entretenimento, é principalmente uma forma de resistência e afirmação da identidade. Para a comunidade LGBTQIAPN+, especialmente para as pessoas negras, os bailes de ballroom representam um refúgio onde podem ser verdadeiramente elas mesmas, longe do preconceito e da discriminação da sociedade dominante.

 A CRISE DE AIDS NOS ANOS 80

No dia 5 de junho de 1981, em Los Angeles, cinco jovens gays foram diagnosticados com uma infecção pulmonar incomum, que era conhecida como pneumonia por Pneumocystis carinii (PCP), e dois deles morreram. Essa foi a primeira vez que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) foi divulgada nos Estados Unidos. Ela é o estágio avançado e devastador da infecção pelo vírus HIV.

Cerca de um mês depois, a atualização no “Morbidity and Mortality Weekly Report”, o boletim do CDC, já registrava 26 homens gays em Nova York e Califórnia com os mesmos diagnósticos. E esse número aumentaria exponencialmente.

As comunidades LGBTQIAPN+ estavam perdendo muitos amigos e entes queridos para a doença, e sem ter esperanças do que fazer. O governo do então presidente Ronald Reagan deu pouca atenção para a epidemia, e apenas quatro anos depois é que ele fez uma menção pública à Aids.

Para as principais autoridades do país e a sociedade em geral, a Aids era vista como uma “peste gay”, e acreditava-se que essa condição se dava ao estilo de vida e comportamentos dos gays, mesmo que na época tenham sido relatados casos em mulheres, bebês, usuários de drogas injetáveis e pessoas portadoras de hemofilia.

Como os políticos e as entidades governamentais não agiram com rapidez, os ativistas tomaram a frente e fizeram o que podiam para combater a homofobia e o estigma e garantir que os membros de sua comunidade tivessem acesso às informações de saúde pública necessárias.

Em 19 de março de 1987, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, aprovou um retroviral conhecido como AZT para tratar a infecção pelo HIV. Apesar de diversos avanços médicos terem mudado o prognóstico para pacientes com HIV/Aids, ainda hoje não existe uma cura para a doença.

ASSISTA AO TRAILER

Compartilhar

Categorias

Me siga nas redes sociais

Busca

Veja mais