‘Mussum, o Filmis’, comove ao mostrar o lado humano além do lado artista

Cinebiografia retrata desde a infância de Mussum até sua ascensão na televisão e na música

Mussum, O Filmis é uma cinebiografia e tanto, que emociona e diverte do início ao fim. Com um roteiro não cronológico da vida de Mussum, que passeia por períodos de sua infância, da vida adulta até o auge de sua carreira, Ailton Graça interpreta com destreza um dos mais emblemáticos personagens da televisão brasileira.

Com roteiro de Paulo Cursino e direção de Silvio Guindane – este que, na minha recatada opinião, interpretou de maneira brilhante um papel complexo como a Mãe, ou Abelardo Ferreira, na série 1 Contra Todos, disponível na Star+ -, nos é apresentado Antônio Carlos Bernardes Gomes, ou Carlinhos, como era carinhosamente chamado pela família.

ARTISTA DESDE PEQUENO

Sua trajetória é naturalmente guiada para o mundo das artes desde pequeno quando aprende a tocar instrumentos, o que faz com que se transforme num adolescente apaixonado pelo samba carioca. Nesta época da bossa nova dos anos 60, Mussum chegou a conhecer pessoalmente, no Morro da Mangueira, o inesquecível Cartola.

Antônio Carlos esteve na posição de cabo da Força Aérea Brasileira por vontade da mãe, dona Malvina (Cacau Protásio), vivendo uma vida paralela entre plantões militares e saídas na madrugada para cantar em casas de shows, momento em que conhece a cantora Elza Soares e é convidado para dividir o palco com ela. Com a possibilidade de uma carreira através da fundação dOs Originais do Samba, que ganhou grande evidência na música 10 anos depois, abandonou sua função de cabo em 1960.

Em sua transição de sambista para comediante, que aconteceu ao virar integrante dOs Trapalhões ao lado de Dedé Santana, Renato Aragão e Zacarias, a cinebiografia expõe o talento nato que ele possuía para ambas as áreas – mesmo que tenha havido relutância para iniciar na comédia – e a certeza do sucesso em qualquer que fosse a profissão que escolhesse.

AMOR DE MÃE NÃO FALTA

Além do núcleo que expões sua formação como artista, outro núcleo comovente é a da sua relação com a mãe, dona Malvina (Neusa Borges), cuja presença é a única onde o personagem se despe de qualquer traço da fama e volta a ser apenas um menino.

Ela, que não teve acesso aos estudos e cresceu analfabeta, trabalhou por muitos anos como empregada doméstica para sustentar cada um dos filhos, mas sobretudo alimentar o seu poder de escolher o futuro. Mussum retribuiu esse amor e dedicação ensinando pacientemente o alfabeto e escrita à mãe, ainda menino, e dando a ela o simples mas poderoso entendimento sobre como escrever seu próprio nome.

Essa conexão entre mãe e filho é reforçada ao longo de todo o filme através de diálogos carregados de sabedoria maternal, respeito à figura materna e cuidado mútuo.

BURRO PRETO TEM UM MONTE, MAS PRETO BURRO NÃO DÁ!

A frase “Burro preto tem um monte, mas preto burro não dá”, pronunciada algumas vezes por Carlinhos e pela mãe, é um exemplo perfeito sobre como o tema racial foi tratado de maneira leve, algumas vezes até cômica, por parte dos personagens. 

Sendo um dos únicos comediantes negros dos anos 80 no Brasil, o menino nascido no Morro da Cachoeirinha iniciou na televisão ao lado dO Grande Otelo, no programa Bairro Feliz, outra referência negra da comédia brasileira e que foi responsável pela criação do apelido do artista.

Esse pano de fundo racial presente em toda a trama – pois é algo inerente à vivência do personagem – mostra que Mussum não era atingido por qualquer intenção de menosprezar seu talento por conta de sua cor, porque nunca esqueceu, mesmo no auge da fama, de onde veio e das pessoas importantes em sua vida que ainda ocupavam esse lugar.

Isso é notável pela maneira como dedicava os seus dias de folga a tocar samba com as crianças da Mangueira do Amanhã, a escola de samba mirim da Estação Primeira de Mangueira, bastante tradicional no Rio de Janeiro e que teve como uma de suas fundadoras a cantora Alcione, por quem tinha um grande carinho e amizade.

A CARREIRA CONTADA PELA MÍDIA 

O filme também se utiliza de notícias e reportagens da mídia da época para desenhar uma linha do tempo da vida de Mussum, desde o seu surgimento na TV Globo até a sua morte em 29 de julho de 1994, devido a complicações após um transplante de coração.

Mesmo com toda a fama que, por muitas vezes, vira um fator determinante no caráter e humildade de diversos artistas, Ailton Graça mostra de forma brilhante um lado humano e generoso de Mussum, que nos cativa e valida a opinião de todos que consideram sua morte uma perda inestimável para o Brasil.

Pela grande ênfase dada à sua vida pessoal, sua carreira, por mais significativa que tenha sido, é mostrada com cortes rápidos e que deixam claro que seu talento era muito maior que uma televisão ou um palco. Ele era, naturalmente e independente no lugar, um verdadeiro artista.

A obra pode ser assistida na Amazon Prime, YouTube, Google Play Filmes e TV, Apple TV e Telecine.

ASSISTA AO TRAILER:

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