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Conjunto da Riachuelo viraliza nas redes sociais por sua estética alusiva aos campos de concentração

Marca se pronunciou e retirou todas as peças das lojas físicas e digitais

No último domingo (10), a postagem de Maria Eugênya Pacioli na rede social X — o antigo Twitter — viralizou por conta da escolha estética de um conjunto exposto na seção feminina da Riachuelo.

O vestuário era formado por uma camisa e calça com listras verticais, de cor azul acinzentado e branco; uma estampa e modelo amplamente conhecidos por terem sido impostos aos que ficaram presos em campos de concentração nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

QUE MODA É ESSA?

Principalmente desde o início deste século, muito é falado sobre a necessidade da moda sustentável e todos os benefícios ambientais que ela proporciona, assim como a moda consciente, que prega a produção de peças que também não prejudiquem o meio ambiente mas que possuam uma estética atemporal, durabilidade e que carreguem significados.

Ambos os conceitos de produção, que se opõem ao modelo fast fashion de fabricar peças em alta escala, levam em consideração os valores sobre conservação ambiental e condições trabalhistas adequadas a quem as produz. Porém a ética, um conteúdo comumente inserido nas grades curriculares de graduação, pode muitas vezes ficar esquecida quando a profissão já está sendo exercida.

O QUE É ÉTICA E MORAL?

A ética é um campo da filosofia que estuda as ações de um grupo ou de um indivíduo, buscando justificá-las e distingui-las entre morais e imorais. A moral, por sua vez, serve para orientar sobre como é a melhor maneira de agir dentro de uma situação específica, e está diretamente ligada aos hábitos e costumes individuais.

Dentro do campo profissional existe a deontologia, um conceito criado pelo filósofo Jeremy Bentham, que dá significado à ciência do dever e da obrigação.

Mesmo que a moral seja uma concepção pessoal e subjetiva, no mundo empresarial a transparência em relação às referências e inspirações utilizadas e propósitos por trás de campanhas de marketing — que foi explicado na íntegra pela Riachuelo, neste episódio, como uma “infelicidade” na escolha do “modelo das peças e da cartela de cores” — é de extrema importância para que os consumidores possam associar o seu próprio conceito de moral ao que estão consumindo.

ÉTICA NA MODA

Mas além da moda sustentável e consciente também há a moda ética. Segundo o Ethical Fashion Forum (EFF), criado para colaborar com as transformações sociais e ambientais no mundo da moda, a denominação “representa uma abordagem à concepção, fornecimento e fabricação de roupas que maximiza benefícios para as pessoas e comunidades, minimizando o impacto sobre o meio ambiente”.

No entanto, uma loja de departamento do porte da Riachuelo vai em sentido oposto à isso quando toda a simbologia que as roupas dos que sofreram nos campos de concentração nazistas é ignorada, utilizada como conceito estético e exposta em suas lojas — físicas e online — como um produto sem carga social ou emocional, como qualquer outra peça ofertada.

A SEMIÓTICA E OS SIGNIFICADOS

A semiótica, uma ideia estudada no campo linguístico pela primeira vez pelo russo Algirdas Julius Greimas, foi criada para compreender os signos — em suas linguagens verbais e não verbais — e quais significados eles podem ter dentro do contexto em que está inserido. A relação entre o signo e o que ele representa se chama semântica.

Ou seja, tudo que vemos, ouvimos e consumimos, associamos a uma significação que, no caso em questão, era uma memória do Holocausto através dos elementos visuais.

Na época em que as comunidades — judeus, homossexuais, negros, ciganos, imigrantes, anarquistas, comunistas, dentre outros — eram aprisionadas nos campos de concentração, também eram obrigadas a esquecer de si mesmas. A utilização das vestes listradas, com triângulos coloridos que representavam cada povo, cabeças raspadas e números tatuados no braço eram tentativas do apagamento de suas identidades e que, após o fim da Guerra, viraram vestígios do sofrimento de quem passou pelo Holocasuto.

Portanto, segundo o texto publicado no Jornal Plural por Maria Eugênya a convite do Museu do Holocausto, em Curitiba,“a moda (…), ainda que plural e efêmera, não pode de forma alguma ser indissociada dos seus efeitos subjetivos, do respeito à memória, do contexto social de suas representações e da atenção à guerra semiótica que se apropria de significantes e esvazia de significados para reformular a história”.

HOUVE INTENÇÃO?

Embora tenha sido esclarecido pela empresa que “em nenhum momento, houve a intenção de fazer qualquer alusão a um período histórico que feriu os direitos humanos de tanta gente” e que não seja possível afirmar que a intencionalidade na criação da peça tenha sido lucrar com uma estética de violência, a escolha agride indiretamente as pessoas que não tiveram uma chance no período nazista e diretamente as que permaneceram para relatar a sua sobrevivência.

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