Ela foi a primeira mulher paranaense a publicar um livro, chamado “Flores Dispersas”, em 1867
Curitiba possui cerca de 9.248 mil ruas, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Desse total, 969 são consideradas não oficiais. As vias dividem os 75 bairros da capital paranaense, nas nove administrações regionais.
Mas o que uma rua pode ter, além de suas belezas, seus grandes prédios, trânsitos e pessoas que por ela transitam todos os dias? Pois bem: histórias de personalidades que de alguma forma foram relevantes para a cidade, e muitas delas, anônimas. Histórias essas que talvez muitos não conheçam.
Quem passa pela Alameda Júlia da Costa, rua bastante conhecida em Curitiba, pode ser que já tenha se perguntado algum dia quem foi a mulher e por que ela deu origem ao nome dessa rua. Se você é uma dessas pessoas, conheça agora um pouco sobre essa grande escritora paranaense.
HISTÓRIA DE VIDA
Júlia Maria da Costa nasceu em Paranaguá, cidade do litoral paranaense, no ano de 1844, mas viveu grande parte da sua vida em São Francisco do Sul, Santa Catarina. Filha de Alexandre José da Costa e Maria Machado da Costa.
Aos dez anos, perdeu o pai e passou a morar com a mãe em São Francisco do Sul, onde foi obrigada a casar-se com o Comendador Costa Pereira, comandante da Guarda Nacional e chefe do Partido Conservador. Ele era 30 anos mais velho do que ela, algo que era muito comum no século XIX. No entanto, mesmo tendo a união indesejada, ela nunca deixou de amar e escrever cartas para Benjamin Carvoliva, seu romance de adolescência.
Foi na cidade catarinense que ela começou seu trabalho no meio literário. Em 1867 publicou dois livros: “Flores Dispersas” 1.ª série e “Flores Dispersas” 2.ª série. Posteriormente, escreveu outros como, por exemplo, “Súplica”, de 1881, e “Trevas”, de 1882 e 1883.
A vida da escritora foi marcada por mistérios, pois pouco se sabe sobre quem realmente ela foi ou até mesmo qual era sua fisionomia. Rosy Pinheiro de Lima, uma das primeiras a escrever sobre ela, descreveu em uma carta ao historiador Carlos da Costa Pereira, em 14 de abril de 1952, que “há dúvidas até se era loura ou morena […], dela não existindo nem ao menos um retrato.”
Sua história ainda é pouco conhecida. Por ter vivido há muitos anos, sua história já foi contada, muitas vezes, de formas diferentes. O fato é que Júlia foi, à sua época, uma mulher inspiradora, inteligente, destemida, apaixonada e firme em seus propósitos.
Ela faleceu em 1911, sozinha em seu sobrado, em São Francisco do Sul.
UMA MULHER À FRENTE DE SEU TEMPO
Assim era considerada por muitos, “uma mulher à frente de seu tempo”, por sua audácia e coragem em suas escolhas. Viveu uma vida intensa e cheia de curiosidades, o que fez com que muitos escritores se interessassem por sua história e escrevessem sobre ela.
Por muitos anos, foi uma das poucas ou quase únicas mulheres a escrever e publicar trabalhos que foram de grande importância e que contribuíram para a cultura paranaense entre o século XIX e XX. Em uma sociedade patriarcal e opressora, onde a literatura de autoria feminina tinha pouca abertura, Júlia da Costa se apresentou como mulher, escritora e artista.
Uma autora quase esquecida quando o assunto é literatura de autoria feminina, Júlia se apresentava ora revolucionária, ora contida, buscando sua expressão artística. Tinha opiniões fortes e ações de vanguarda. Além das poesias, gênero pelo qual ficou mais conhecida, ela também escreveu crônicas-folhetins — crônicas sociais, que falam sobre moda, eventos atuais e outros assuntos do cotidiano.
A sua trajetória como escritora numa sociedade tradicional do século XIX era até então algo reprovável, mas Júlia a traçou de forma emotiva e racional, ideal e real. Mesmo em seus últimos dias de vida, estando praticamente cega, a escritora escreveu versos, pinturas e ainda ansiava em escrever um romance.
Uma frase escrita em seu livro “Flores Dispersas”, de 1867, define quem ela era. “Ser inteligente é um fardo muito pesado para uma mulher”.
ALAMEDA JÚLIA DA COSTA
Os moradores de Curitiba são presenteados com o nome de Júlia da Costa. Ela batiza uma das principais alamedas da cidade, que passa por bairros como Bigorrilho e Mercês. Em sua cidade natal, Paranaguá, também existe uma rua dedicada a ela.
Turistas que caminham pela rua encontram diversas opções de gastronomia, como por exemplo, pizzarias, restaurantes e cafés, também hotéis, hostels, academias e muito mais. Curitiba reserva muitas belezas. Casarões antigos, prédios altos, comércio e arquitetura impecável dão o toque especial nesta cidade charmosa e limpa.