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Há 135 anos, nascia o rei do cinema mudo: Charlie Chaplin

Seus mais de 75 anos de carreira construíram uma filmografia com 81 obras

O VAGABUNDO DE ALMA NOBRE

Muito provavelmente você já se deparou com uma imagem em preto e branco de um homem com calças curtas e sapatos enormes, bigode-de-broxa – que ele utilizava “para parecer mais velho, sem alterar a expressão” -, uma bengala e um chapéu coco. Esse personagem característico, conhecido por gerações desde sua criação, foi ideia da mente brilhante de Charles Chaplin.

Charles Spencer Chaplin era ator, comediante, diretor, compositor, roteirista, cineasta, editor e músico. Nasceu em 16 de abril de 1889, há exatos 135 anos, em Londres, na Inglaterra.

Com apenas 9 anos, o multitalentoso artista já se dedicava aos palcos, seguindo os mesmos passos de seus pais, Hannah Harriet Hill, uma atriz inglesa cujo nome artístico era Lily Harley, e Charles Spencer Chaplin Sr., um cantor popular da época, ambos artistas de music-hall, um tipo de entretenimento teatral britânico que combinava música, comédia e participações especiais. Ele teve uma convivência familiar com os dois até os três anos, quando se separaram.

De 1896 a 1898, Chaplin e seu irmão Sydney moraram na Escola Hanwell destinada a órfãos e meninos pobres após sua mãe ter desenvolvido uma grave depressão em decorrência de problema na laringe que causou uma ruptura em sua carreira. Durante os dois meses de recuperação de Hannah, viveram com o pai alcoólatra que morava com a amante. Ele morreu em 1901 de cirrose no fígado, quando Charlie tinha apenas 12 anos, sendo enterrado numa vala comum sem qualquer cerimônia de despedida.

Aos 19 anos, Chaplin conseguiu um emprego como mímico num teatro e, apenas dois anos depois, já ganhava destaque por seu talento. Saiu em turnê pelos Estados Unidos com a trupe de Fred Karno, um empresário teatral conhecido por descobrir seu talento singular e de muitos outros comediantes, como Stan Laurel.

SEU COMEÇO NO CINEMA

Em 1913, durante seus espetáculos em terras norte-americanas, foi notado pelo produtor canadense Mack Sennett, dono da Keystone Film Company, onde foi convidado a trabalhar. Sennett é conhecido como o “Rei da Comédia”, um gênero que sempre encantou as plateias antes mesmo da consolidação do cinema.

Foi nessa época que Charlie desenvolveu o personagem mais famoso de sua carreira: The Tramp, O Vagabundo ou Carlitos. Um andarilho com maneiras refinadas de um cavalheiro, que possui uma alma nobre apesar de suas vestes. Ele foi revelado ao público pela primeira vez no filme Kid Auto Races at Venice, lançado em 7 de fevereiro de 1914, que apareceu novamente nas telas dois dias depois no filme Mabel’s Strange Predicament. Passou a dirigir e editar seus próprios filmes para Sennett, chegando a produzir, com Mack, 34 curtas-metragens e um longa-metragem, Tillie’s Punctured Romance (1914).

Em 1915, Charlie Chaplin assinou um contrato com a Essanay Film Manufacturing Company, onde O Vagabundo foi verdadeiramente cimentado na Sétima Arte e onde ele começou a desenvolver um estilo cinematográfico muito próprio. Passou a utilizar sentimentalismo e o pathos – uma expressão artística que evoca dó, pena ou compaixão ao espectador – em suas produções, além de formar um elenco estático para estrelá-los.

Como o cinema mudo possuía uma linguagem universal, com diálogos transmitidos por meio de gestos, mímicas e letreiros explicativos, Chaplin se tornou um produtor e ator em ascensão, principalmente por ser uma das principais formas de diversão dos imigrantes residentes nos Estados Unidos.

O ESTILO CHAPLIN DE PRODUZIR

Um ano depois, Chaplin foi contratado pela Mutual Film Corporation para produzir 12 filmes em 18 meses, possuindo controle artístico total sobre as obras. Neste período, criou alguns clássicos da comédia como One A.M. (1916), The Pawnshop (1916), Easy Street (1917) e The Adventurer (1917). Antes da introdução do cinema falado às telas, Chaplin iniciava suas obras com apenas uma pequena premissa da história ao invés de um roteiro, improvisando as cenas e criando, aos poucos, sua estrutura narrativa.

Em 1917, firmou um trabalho com a First National para produzir oito filmes com a duração de duas bobinas. No início do cinema, os filmes não possuíam cortes e concatenação de cenas, apenas uma imagem estática no mesmo enquadramento, num único plano, utilizando bobinas dentro do projetor de imagens. Quando a bobina acabava, o filme também.

Chaplin, então, construiu seu próprio estúdio em Hollywood e, com ideias ambiciosas para as possibilidades técnicas da época, produziu longa-metragens clássicos como, por exemplo, The Kid (1921), que estrelou Jackie Coogan e o tornou a primeira celebridade infantil da história. Era conhecido por seu perfeccionismo na condução de qualquer filmagem com seu elenco que, muitas vezes, esperava parados por horas para poder iniciar os trabalhos ou, em casos excepcionais, tinham a produção cancelada completamente.

MONOPÓLIOS, REPRESSÃO E CINEMA MUDO

No fim da década de 10, fundou a United Artists junto com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, uma companhia independente de produção cinematográfica que tinha como objetivo se opor às grandes corporações da época, como Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Paramount e Fox, que monopolizavam a distribuição de filmes. Trabalhou no local até 1950 e, neste ciclo, produziu mais clássicos como o drama A Woman of Paris (1923), The Gold Rush (1925) e O Circo (1928).

Durante a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão de 1929, o humanismo de seus filmes levou paz, respeito e amor ao próximo, apesar das dificuldades. Foi neste cenário político conturbado que Chaplin também utilizou a sátira para criar, dirigir e atuar em O Grande Ditador (1940). O filme foi considerado um ato de coragem e rebeldia contra Adolf Hitler e Benito Mussolini. Nele, Charlie interpreta dois personagens: Adenoid Hynkel, ditador da “Tomânia”, claramente inspirado em Hitler, e um judeu frequentemente perseguido por nazistas. Jack Oakie obteve o papel de Benzino Napaloni, o ditador de Bactéria, representando o fascismo de Mussolini. Seus filmes chegaram a ser proibidos na Alemanha nazista pois eram considerados subversivos e contrários à moral e aos bons costumes daquele país.

Este foi seu primeiro filme do cinema falado. Chaplin não quis aderir à ideia até o fim de 1930, pois considerava que a essência da arte da Sétima Arte eram as pantomimas, que utilizavam gestos através da mímica para narrar a história com expressões corporais. Mas, se adequando às mudanças da indústria cinematográfica, produziu Luzes da Cidade (1931), um romance que reflete sobre as aparências, e Tempos Modernos (1936), uma crítica ao modelo de industrialização e do uso indiscriminado do serviço dos operários pelo poder do capital. Neste último, a voz do ator é ouvida pela primeira vez.

No final da década de 40, Charlie Chaplin lançou o Monsieur Verdoux (1947), um filme de humor negro considerado uma crítica ao capitalismo. Tido como um comunista por J. Edgar Hoover, um policial que ocupou o cargo de 1º diretor do FBI por 38 anos, seu nome foi incluído na Lista Negra de Hollywood, uma lista da indústria do entretenimento estadunidense criada para boicotar artistas simpatizantes do Comunismo e negar-lhes qualquer emprego.

SEU FIM E SEU LEGADO

Em 1952, este conflito culminou no exílio de Charles Chaplin após uma viagem ao Reino Unido para a estreia do filme Luzes da Ribalta (1952) em Londres. Um acordo entre Hoover e o Serviço de Imigração fez com que seu visto fosse revogado e, por isso, escolheu Corsier-sur-Vevey, na Suíça, para morar. Voltou aos Estados Unidos somente 10 anos depois para receber o Prêmio Especial da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A última vez em que apareceu nas telas foi no filme A Countess from Hong Kong (1967), onde fez apenas uma pequena ponta interpretando um mordomo, apesar de ter produzido, dirigido, roteirizado e feito a trilha sonora do filme inteiro.

Com toda a sua versatilidade nas artes, Charles Chaplin teve uma carreira de mais de 75 anos, colecionando um total de 81 obras dirigidas, produzidas, financiadas, roteirizadas, musicadas ou atuadas por ele. Ao longo de sua vida, foi indicado a 6 Oscars (Melhor Trilha Sonora Original em Luzes da Ribalta (1973); Oscar Honorário Conjunto da Obra (1972); Melhor Roteiro Original em Monsieur Verdoux (1948); Melhor Ator e Melhor Roteiro Original em O Grande Ditador (1941) e Oscar Especial em O Circo (1929)) e foi premiado em 3 deles ((Melhor Trilha Sonora Original em Luzes da Ribalta (1973); Oscar Honorário Conjunto da Obra (1972) e Oscar Especial em O Circo (1929)).

Para muitos historiadores, Charlie Chaplin possui a mesma importância para o cinema mudo que Georges Méliès, os irmãos Lumière e D. W. Griffith. Como em sua vida não poderia faltar magia, morreu na noite de Natal, em 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos, no local que escolheu para o seu exílio. Partiu dormindo em decorrência de um derrame cerebral.

Seu legado proporcionou uma série de imitações de Carlitos, personagens inspiracionais, comerciais e biografias cinematográficas e literárias. Afinal, como cita Martin Sieff em sua biografia ‘Chaplin: Uma Vida’, “ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam.”

“O tempo é o melhor autor; sempre encontra um final perfeito.”

ASSISTA AO TRAILER DE ‘TEMPOS MODERNOS’

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